Posições Políticas

SOBRE A TRAGÉDIA QUE VOLTOU A ASSOLAR O DISTRITO DE LEIRIA

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COMUNICADO DA DIRECÇÃO DA ORGANIZAÇÃO REGIONAL DE LEIRIA

DO PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS

 

Passada uma semana da catástrofe que, após os incêndios de Pedrogão Grande e concelhos adjacentes, deixou mais uma vez um rasto de destruição no distrito de Leiria, com particular incidência no Pinhal de Leiria, a Direcção da Organização Regional de Leiria do Partido Comunista Português:

 

1 - Expressa a solidariedade a todos aqueles que no Distrito de Leiria foram afectados por esta catástrofe, incluindo aqueles que sofreram perdas e danos de uma vida de trabalho e património.

 

2 - Expressa o seu reconhecimento pelo abnegado e corajoso trabalho dos bombeiros e profissionais da protecção civil que no distrito combateram as cerca de 20 frentes de incêndios, com dimensões e violência inéditas, combate realizado em condições atmosféricas manifestamente difíceis e profundamente adversas e com uma evidente escassez de meios para a dimensão e extensão dos incêndios.

 

3 - Considera que esta é a consequência anunciada das políticas de sucessivos governos do PS, PSD e CDS de destruição de estruturas e meios de protecção da floresta.

Ao ignorar os sucessivos alertas do PCP (nomeadamente quando da discussão sobre medidas a tomar na sequência dos incêndios de Pedrogão Grande e concelhos adjacentes) que criticavam variados aspectos da chamada reforma florestal; que apontavam a necessidade de reforço urgente de meios humanos e financeiros para a prevenção e combate; e que chamavam a atenção para a necessidade de medidas especiais para um ano que se adivinhava especialmente crítico dado o nível de seca e as previsíveis condições atmosféricas, o Governo do PS não retirou todas as lições devidas da tragédia de Pedrogão Grande.

 

4 - Sublinha que o tempo é ainda de tomada de todas as medidas urgentes que garantam o apoio às vítimas dos incêndios, nomeadamente na garantia de habitação condigna a todos os que perderam as suas casas e apoio à reconstrução, no restabelecimento de comunicações e reparação de infra-estruturas, na garantia de apoio a todos os que perderam os seus empregos e meios de subsistência, na recuperação do potencial económico perdido e na tomada de todas as medidas que previnam e resolvam outros problemas que, com a chegada das chuvas, irão decorrer dos incêndios, nomeadamente os perigos de deslizamento de terras e arrastamento de cinzas e a contaminação dos terrenos e fontes de água potável, entre outras.

 

5 - Sublinha que no quadro e para lá das medidas já anunciadas pelo Governo, o Orçamento de Estado de 2018 deve de forma inequívoca garantir o reforço efectivo dos meios humanos e financeiros para a defesa da floresta, nomeadamente para que a criação de 100 equipas de sapadores florestais se efective com todas as condições necessárias; para que se componha um Corpo de Guardas Florestais que responda a todas necessidades e que se garanta os meios necessários às medidas de prevenção estrutural designadamente quanto às redes de faixas de Gestão de Combustível.

 

6 - Na sequência de declarações de elementos do Governo sobre o Pinhal de Leiria, manifesta a sua total oposição a qualquer tentativa de privatização, directa ou indirecta da maior Mata Nacional, a segunda maior da Europa. O problema do Pinhal de Leiria não é o princípio da gestão pública pelo Estado, mas sim a carência de meios para que essa gestão seja eficiente e de qualidade e o progressivo desinvestimento do Estado neste importante recurso e património nacional essencial para o equilíbrio ambiental em Portugal.

 

A Mata Nacional de Leiria é um dos mais importantes recursos florestais de que o País dispõe, um dos grandes tesouros naturais da região centro do País. O Estado tem a obrigação de definir e concretizar um plano de limpeza, reflorestação, plantação, reordenamento e valorização do Pinhal de Leiria e de assumir, com os meios financeiros e humanos adequados, e em articulação com as autarquias, uma gestão pública, competente e de excelência.

 

Tais meios não devem estar apenas dependentes do resultado da venda da madeira queimada neste incêndio, que obviamente deve reverter para investimento na Mata Nacional, mas que serão manifestamente insuficientes. Assim a DORLEI do PCP defende que os meios financeiros necessários devem ser já consagrados no Orçamento de Estado para 2018, princípio que o PCP defenderá no quadro do exame à proposta de Orçamento de Estado.

 

No mesmo sentido, a DORLEI do PCP considera que quaisquer soluções de municipalização da Mata Nacional de Leiria, ainda que suscitadas por justos sentimentos de defesa daquele património, não só não resolverão nenhum dos problemas estruturais, como poderão abrir portas à desresponsabilização dos Governos nacionais na preservação e valorização deste importante recurso e património nacional. Tais soluções criariam novos problemas às autarquias da Marinha Grande que não têm nem meios financeiros e humanos, nem vocação, para a gestão de uma mata nacional com a dimensão e particularidades do Pinhal de Leiria.

 

Não obstante, a DORLEI do PCP considera que a gestão pública da Mata Nacional de Leiria, bem como a protecção de áreas florestais no seu desenvolvimento a norte e a sul da Mata Nacional, deve no futuro envolver de forma mais directa as autarquias da região, bem como as populações.

 

a) No imediato a DORLEI do PCP propõe a realização de um Fórum para a protecção e recuperação da Mata Nacional de Leiria, envolvendo o Governo nacional, o Município da Marinha Grande, os municípios de Alcobaça e Leiria, partidos políticos, as Associações de Bombeiros e a população (nomeadamente por via do movimento associativo e organizações vocacionadas a defesa da floresta e do mundo rural). Um Fórum que discuta e aponte caminhos para a recuperação da Mata Nacional e para a protecção da área florestal adjacente à Mata Nacional.

 

b) Propõe ainda a criação de uma Comissão de Acompanhamento da Gestão e valorização da Mata Nacional de Leiria (Pinhal de Leiria) que envolva, entre outras entidades, as Autarquias da Marinha Grande - nomeadamente a Câmara Municipal e as Juntas de Freguesia.

 

7 - Informa que o PCP irá, por via da Assembleia da República, pedir ao Governo informações e esclarecimentos sobre o corte, venda e destino de árvores e material lenhoso oriundos do Pinhal de Leiria, especialmente no período posterior ao incêndio.

Informa igualmente que, na sequência das diligências já levadas a cabo, os deputados do PCP no Parlamento Europeu entregaram uma pergunta à comissão europeia em que solicitam “informação detalhada sobre que verbas, fundos e programas comunitários podem ser utilizados pelo Estado português no apoio à reflorestação do Pinhal de Leiria.”

 

8 - Informa que na próxima segunda-feira, uma delegação da Direcção da Organização Regional de Leiria, com a participação de dirigentes dos organismos Executivos do Comité Central do PCP e deputados do Grupo Parlamentar irá deslocar-se-á às áreas afectadas pelos incêndios nos Concelhos de Leiria, Alcobaça e Marinha Grande. A Delegação do PCP irá contactar com entidades, Associações de Bombeiros e populações afectadas, com o objectivo de avaliar os danos causados pelos incêndios e identificar medidas urgentes a tomar.

 

9 - Considera que uma das questões centrais para evitar mais tragédias como esta é uma maior responsabilização do Estado na gestão da floresta, na prevenção e combate a incêndios e no ordenamento do território e combate à desertificação. É necessário mais meios humanos afectos às estruturas da Administração Central munidos dos meios financeiros necessários para a floresta e para o apoio à actividade agrícola. Nesse sentido a DORLEI do PCP reitera a sua condenação do encerramento de vários serviços da Direcção Regional de Agricultura no Distrito de Leiria.

10 - Reitera que é obrigação do Estado a gestão das condições de intervenção dos operacionais que estarão no terreno durante as fases mais agudas da época de incêndios - nomeadamente quanto à formação ministrada; aos equipamentos individuais; às condições materiais para o desenvolvimento das suas tarefas (designadamente quanto à valorização do pagamento às Equipas de Combate a Incêndios Florestais); e quanto à disponibilidade de meios humanos nas corporações de bombeiros.

 

11 - Sublinha a necessidade de valorizar a importância e o papel dos pequenos produtores e compartes dos Baldios, de dar mais meios e poder de decisão às suas associações, de dar resposta ao problema central do baixo preço do material lenhoso e assegurar o ordenamento da floresta, designadamente através da elaboração do Cadastro Florestal com os meios financeiros adequado.

 

 

 

 

 

 

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